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Vespertino potiguar desqualifica atriz pernambucana

Colaborador de Navegos  faz garimpagem em velhos jornais e descobre fatos que marcaram época.

*José Vanilson Julião

O teatrólogo Inácio Meira Pires (Ceará-Mirim 1928 – Natal, 1982), na coluna “Na Prateleira do Tempo – LXXVI” (Diário de Natal, 12/9/1952) – relata numa linha a primeira apresentação (17/5/1934), em meio ao comentário “Anotações da Companhia Lírica Italiana.”

As últimas apresentações aconteceram no “teatro de variedades” (quarta-feira, 23, e sábado, 26/1/1952). O corpo da reportagem indica que a atriz tem “repertório sujestivo e interprete todos os ritmos.”

O secretário da companhia da atriz pernambucana Marquise Branca visita a redação na quinta-feira (17/6/1937) deve ter saído satisfeito ao comunicar a apresentação do grupo no Teatro Carlos Gomes (Alberto Maranhão) para o mês seguinte.

Soares da Silva também pode ter se surpreendido com a nota de “A Ordem” (551) na tarde seguinte. – A companhia tem repertório para todos os paladares, mas está informada que o povo de Natal tem bom gosto e detesta imoralidade. Ficamos de prontidão para informar nossos leitores.

A crítica pedante (edição 567) é confirmada quando da apresentação também numa quinta (8/7): – O povo já vai se acostumando a apreciar o bom teatro e a desprezar o teatro de baixa cotação. A companhia está experimentando isso. Pouco comparecimento, nenhum entusiasmo, porque não tem requisitos para se apresentar em meio civilizado.

“A Companhia levou a peça “Cabo 70”. Circo de feira não tem apresentado coisa melhor, menos grosseira e imoral? A “Marquise Branca” não merece que com ela o povo perca o seu tostão. As famílias não devem baixar-se a assistir espetáculos sem arte e moralidade.” Dois dias (569) a companhia é citada em meio à crítica sobre o “O circo do Alecrim e a Polícia.”

Albertina Brasileiro (Triunfo, 6/12/1910 – Rio de Janeiro, 22/5/1965), este o nome de batismo, com o pseudônimo artístico é homenageada em teatro, reformado, adaptado e inaugurado em 2003 a partir de antigo matadouro público edificado em 1928, no município cearense de Juazeiro do Norte.

A família muda para o Cariri e mantinha uma pensão na cidade sertaneja. A irmã, Irma Brasileiro, casa com o ator Aloísio Campelo (1927), integrante da Companhia Conceição Ferreira (21/4/1904 – 29/5/1992), em temporada na região. Acompanha a irmã e o cunhado e adota o apelido.

Ela estreia em Iguatu. Em seguida Fortaleza com a companhia do Cine-Teatro Glória. Casa com o espanhol Afonso Moreira, companheiro de palco (6/9/1928). Em Sobral (7/1), coincidentemente, “A Ordem” local noticia a chegada da trupe da atriz portuguesa Conceição Ferreira, com ela no elenco.

No ano seguinte o casal forma com Carlita Moreira um trio. Apresenta-se no Maranhão e chega a se estabelecer em Buenos Aires. Depois do título de “maior sambista do Brasil” nos anos 30 na década vindoura se separa do marido, com quem tem os filhos Alberto, Afonsito e Norma, e a carreira declina. Tenta retomada com o elenco da Rádio Tamandaré (Recife).

Cria a breve companhia Wilson Valença–Marquise Branca. Apresentava peças musicadas explorando o humor e temas sentimentais. Com tipos populares e ação direta e condensada. “Mostrava as pernas e dançava de forma sensual.”

“Numa publicidade do Cine Moderno –a pesquisa não identifica a cidade – a troupe precede estreia do filme A Derrocada” (com Ruth Chartterton e George Brent). E apresenta sambas, rumbas e rancheiras. Mais a banda de jazz do maestro J. Cabral.

Uma referência sobre a atriz ocorre em artigo de Roberto Júnior no blog “Cariri das Antigas” (27/7/2018). Descansa no cemitério São João Batista. No bairro carioca de Botafogo (Zona Sul).

 

FONTES

A Ordem

Diário de Natal

Diário do Nordeste

Badalo

Cariri das Antigas

Ceará-Mirim Cultura & Arte

Fotos: Marquise Branca e do Matadouro que se transformou em teatro no Ceará.