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Uma visita inesperada

Jornalista aposentado, crítico de arte em Colaborador de Navegos, narra encontro com o “Rei do Baião”, de passagem por Salvador, ode se apresentaria em show.

*Reynivaldo Brito

O Rei do Baião percorreu o Nordeste. Enfrentou altos e baixos na sua vida de forrozeiro. Era um domingo qualquer dos anos 70 por volta das 18 horas. Estava   preparando a edição da   segunda-feira. Em   cima da mesa muitas provas de fotografias, textos, avisos e outros papéis para despachar. Tinha poucos   minutos que chegara à redação do jornal e abria   minhas gavetas para conferir as pautas das reportagens e outras informações necessárias para iniciar o trabalho.

Foi quando o segurança Walter Silva (falecido em 2021), me ligou da portaria  informando que tinha um senhor de nome Luiz  Gonzaga querendo falar comigo. Imediatamente, disse a Walter que podia mandar entrar. Foi  assim, sozinho que ele chegou,  subiu as escadas para  me encontrar no primeiro andar do prédio do jornal A Tarde, localizado na Avenida Tancredo Neves, em Salvador. Com seu jeito matreiro foi de pronto perguntando: “Você me conhece caboco?” Claro, o grande Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, lhe respondi. Ele abriu aquele sorriso largo inesquecível e foi sentando. Ai conversamos um pouco sobre seu trabalho,  e principalmente sobre um show que iria fazer em Salvador. Estava sem empresário ou qualquer outra pessoa que pudesse  lhe acompanhar.

Chamei um repórter e pedi que o entrevistasse com carinho para publicarmos ainda na edição que ora estava preparando anunciando o seu show. Depois de algum tempo ele veio novamente em minha direção, agradeceu e saiu sozinho andando no meio da redação barulhenta, porque à esta altura editores, repórteres já batiam suas matérias nas máquinas Remington, que juntas faziam um forte barulho. Além do barulho das conversas, sempre em voz alta, dos repórteres, fotógrafos e diagramadores os quais já estavam em seus postos trabalhando.

Sabia que o forró estava em baixa naquela época.  A Música Popular Brasileira – MPB e o rock nacional ocuparam todos os espaços na televisão, nos teatros e nos shows. Os forrozeiros de todo o país passaram grandes dificuldades, inclusive o maior de todos os tempos o genial Luiz Gonzaga.

Sou do sertão e sempre curti as coisas da minha terra, em especial as manifestações culturais, e o forró está em primeiro lugar. Tenho no carro cds e pendrives com músicas de forró que ouço, tanto nos curtos trajetos aqui em Salvador, como também quando estou indo ou vindo do sítio, que fica cerca de 100 quilômetros da Capital. É claro, que o saudoso Luiz Gonzaga sempre esteve presente desde os primeiros anos de vida de minha infância e juventude em Ribeira do Pombal, e continua presente com suas músicas envolventes e inesquecíveis.

Como uma história puxa outra lembrei que neste mesmo período que o forró estava em baixa  Luiz Gonzaga esteve em Ribeira do Pombal, distante a 287,2 Km de Salvador, e lá fez um show. Como não existiam muitas atrações na Cidade terminou a noite tomando umas cervejinhas e cachaças com seus músicos na zona, na casa da famosa Palmira, de saudosa lembrança. Lá ela mantinha algumas mulheres que divertiam a rapaziada.

Palmira era querida por todos, inclusive quando era criança lembro de minha mãe vendendo o leite que vinha da nossa fazenda às pessoas que moravam nas ruas próximas da nossa casa. Elas traziam os litros ou garrafas de vidro, e minha mãe com a ajuda de uma funcionária enchiam de leite fresco. O leite era trazido no lombo de um burro, em dois vasos grandes de alumínio. Depois o burro passou a puxar uma carroça com seus velhos pneus de borracha. Diariamente um trabalhador vinha da fazenda, que distava pouco mais de 10 Km da Cidade. As pessoas pegavam o leite e era anotado numa caderneta. Na sexta-feira, dia de feira na Cidade, os clientes viam pagar o leite que pegaram. Bons tempos.