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Um Decameron potiguar

Fundador de Navegos escreve sobre novela pseudo-histórica de Iaperi Araújo, ambientada no Rio Grande do Norte sob o Domínio Holandês. Lembra-lhe, por seu estilo, uma deliciosa crônica de época. Uma viagem no Tempo.

*Franklin Jorge

Publica a Feedback Na Capitania de El Rey, em E-book, numa cuidadosa reedição que tive a honra de conduzir com Éder Basílio em busca da melhor solução. Compomos um Manual de maus costumes políticos, escrito em estilo leve e picaresco por Iaperi Araújo [1946], escritor, historiador, artista plástico, médico e professor. Representante natural do Movimento Armorial no Rio Grande do Norte, estudioso da Cultura Popular, apaixonado pela História que reconta com graça e discernimento e dá forma à crônica que subjaz no imaginário coletivo.

Novela pseudo-histórica, licenciosa, pornográfica até, tem como pano de fundo as operações e interesses do Governo Holandês, controlador a província do Ryo Grande, e suas relações com governantes e a nobreza indígena de comedores de cabeças de camarão. É o Segundo Volume de uma trilogia que reporta fatos históricos e personagens arredios às regras, em grande parte políticos ou coadjuvantes servis.

Por sua riqueza imaginativa, faz-nos Iaperi viajar no tempo, locando-nos com um passado que é parte obscura da história de todos. A crônica da Capitania que criou a carne de charque e registou a chacina selvagem dos chamados “mártires de Cunhaú”, mortos a pauladas e golpes de armas brancas, enquanto em um domingo, pacificamente, assistiam à Missa.

A novela espelha bem os maus tratos e costumes de uma época, filtrados pelo talento de um escritor que castiga rindo, fazendo-nos rir em alguns capítulos, também. Temos, como uma representação de Lucrécia Borgia nos Trópicos. Mbotira, a princesa indígena ninfomaníaca, filha do Rei dos Potiguares, casada com Jacob Rabbi, proto-historiador, um tipo para qualquer obra, autor do primeiro e único relato escrito  sobre a Capitania,  promotor do massacre que se tornou lendário.

Escrito em estilo de época, em bom sotaque popular, às vezes picante, faz-nos contemporâneos duma Espanha que era a dona de um grande império colonial que estendia seus tentáculos em todas as direções.

Na Capitania de El Rey consagra a verve e o talento de um escritor que se diverte escrevendo e transforma o leitor em companheiro e participante de suas aventuras como, confabulatori nocturni, essa profissão que distingue os contadores de estórias, agentes difusores de contos imemoriais, narrando sob as estrelas. Envoltos em suas grossas capas e mantos, protegendo-os do sol, dos ventos e das tempestades de areia.

.Em sua Apresentação à edição digital deste livro, locado na Amazon, escreveu o crítico e Colaborador de Navegos.COM, Alexsandro Alves:

Vocês podem não acreditar, mas a bugra Domingas, a Mbotira, tinha lá seus desejos sexuais, mas os guardava para si, como fazia com alguns pequenos objetos de ouro e pedrarias que de vez em quando encontrava nos bolsos do gajão. Parecia entender que eram objetos de saques. Roubos que o marido perpetrava nos engenhos, sempre secundado pelos tapuias que mais queriam a farra e o banquete de carne humana do que o butim dos saques. Mas os desejos da bugra eram sexuais mesmo. Ela já vira algumas índias praticando o sexo no mato e não sem surpresa, e lembrava como gritavam, urravam e desfaleciam no gozo sexual que ela nunca tivera. Também, o gajão não sabia fazer como os índios, por detrás, querendo-a sempre por baixo. Uma vez, Jererera perguntara a Jacobo como os brancos faziam para piciricar. – O homem sempre por cima.

 

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Em destaque, capa aberta do livro de Iaperi Araújo; acima, Caneca Feedback [foto meramente ilustrativa] financiam edição impressa desta obra, disponível em E-book na Amazon.