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Travessa do Medeiros

Dando continuidade à publicação da série de crônicas enfeixadas em Actas Diurnas, celebrizadas pelo grande escritor Luís da Câmara Cascudo. enfocamos hoje um logradouro atualmente em franca decadência. Agradecemos à presidente do Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo, Daliana Cascudo Roberti Leite, a permissão de fazê-lo, e ao pesquisador Eduardo Alexandre Garcia a cessão da imagem de época.

*Luís da Câmara Cascudo

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Um velho leitor pergunta-me onde ficava, na cidade do Natal, a Travessa do Medeiros, que ele deparava menção em jornais antigos e não conseguia localizar.

Corresponde à atual Travessa Venezuela, no bairro da Ribeira, ligando a Rua Doutor Barata à Rua Chile, antiga do Comércio. É a primeira travessa, vindo da Avenida Tavares de Lira.

Aí estava o armazém de um comerciante de Natal do passado. Antônio Idalino de Vasconcelos, ao redor de 1870.

Naturalmente o nome era apenas Beco de Antônio Idalino e assim toda a gente o chamava.

Quem desembarcava no cai Pedro de Barros (Tavares de Lira, hoje), alcançava a Rua Correia Teles (atualmente Doutor Barata) passando pelo Beco de Antônio Idalino. era de tráfego relativamente intenso e daí a popularidade do topônimo.

Mais ou menos em 1885 estabeleceu-se no Beco de Antônio Idalino a Farmácia Medeiros, do farmacêutico Victor José de Medeiros, que se tornou afreguesada e conhecidíssima. O dono era homem letrado, conversando bem e de trato agradável. Como no momento era ele dono de uma das duas únicas farmácias da cidade (a outra era a do comendador José Gervásio de Amorim Garcia, na Rua Tarquínio de Souza, na Rua Chile dos nossos dias) ficou sendo amigo de todos porque todos recorriam à sua ciência e recursos imediatos.

Beco de Antônio Idalino passou a ser a Travessa do Medeiros e mesmo a Câmara Municipal lhe deu este nome em 13 de fevereiro de 1888.

O batismo pegou e ninguém a dizia de outra maneira. Era Travessa do Medeiros, para todos os efeitos urbanos.

Vitor José de Medeiros faleceu no Recife em 24 de outubro de 1900, onde fora submeter-se a um tratamento médico.

Estava a cidade do Natal, ou melhor, o Conselho da Intendência Municipal, procurando naquele tempo, fazer uma campanha de boa vizinhança e assim rebatizou vários logradouros com os nomes das nações sul-americanas, de relações amigas com o Brasil.

Pela resolução número 74, de 5 de dezembro de 1902, a Travessa do Medeiros ficou sendo oficialmente Trave4ssa Venezuela.

O novo título demorou em popularizar-se porque ainda em 1910-1915 diziam os velhos natalenses Travessa do Medeiros e não Travessa Venezuela, como era de justiça repetir

Com o rodar do tempo, o antigo nome foi desaparecendo com os derradeiros fiéis e permaneceu, na memória coletiva, o título dado pela Intendência em 1902, Travessa Venezuela.

E a travessa do Medeiros não voltou a surgir na lembrança de ninguém. Mas relendo jornais de outrora, reaparece, como um fantasma sem pouso porque nem toda gente sabe onde ficava a travessa.

É o que faço agora, atendendo à consulta gentil do velho leitor…

A República, 26 de março de 1959.