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Representações de mulheres em quadrinhos

Os Quadrinhos têm diversas representações femininas, de heroínas e vilãs sensuais, hermafroditas e pansexuais  que Colaborador de Navegos, em suas pesquisas do gênero, traz à discussão em um texto minucioso e intrigante.

*Renato de Medeiros Jota

Na diversidade de quadrinhos lançados em bancas ou vendidas por meios on line, constata-se ainda que nas suas páginas os personagens masculinos é maioria. Entretanto, as personagens femininas vêm ganhando cada vez mais espaço nas publicações de HQs na atualidade com histórias interessante e com muita ação. Mas isso não foi uma conquista fácil, nunca foi para as personagens femininas sejam elas de carne ou osso no cinema ou de papel e tinta nas HQs, mas o fato é que elas estão cada vez mais presentes e conquistando seu espaço. Isso se deve as mãos de escritores e escritoras talentosas que conseguiram tornar as histórias das personagens interessantes buscando ao mesmo tempo atrair a atenção do leitor do feminino para as HQs. Nesse sentido o estimulo de centrar histórias em personagens femininas vem ganhando a atenção tanto do publico feminino quanto masculino, estando muitas vezes ou mais no mesmo nível de complexidade e violência que os encontrados nos heróis de linha.

Vale ressaltar que não é só no papel que o feminino vem ganhando espaço, na linha de produção também. Temos muitos exemplos de artistas do traço como Gail Simone, Giovana, Kan Takahama, Caitlin Kttredge, Paloma Diniz, Cristiane Moura entre tantas outras artistas do traço e do roteiro que devemos conhecê-las e conferir suas obras. Todas elas vêm ganhando espaço a cada obra e todas elas são de grande qualidade e talento. Devemos ressaltar que esse reconhecimento não foi sem muita luta e esforço. No mundo competitivo das publicações de HQs cheios de marmanjos que fazem de tudo para defender seus heróis e suas histórias, o público artístico feminino sofre bastante resistência tanto pelo mercado de HQs quanto pelos seus leitores, a maioria masculina. Vale salientar que hoje a resistência está sendo vencida, mas ela ainda existe e por isso é necessário que as meninas leiam e compartilhem desse universo, enfrentando os marmanjos e ganhando espaço nessa zona democrática que é as HQs.

Hqs que tinham personagens femininas como principal eram raras apenas sendo modificada de duas décadas para cá. Nesse cenário, observa-se aos poucos personagens como Mulher Maravilha,Viúva Negra, Barbarella, Cristal e algumas poucas e raras personagens figurarem como personagem centrais, mas estas eram consideradas exceção nas publicações de HQs. Com o passar do tempo e as baixas vendas de HQs e o subseqüente declínio do interesse pelas HQs ditas inocentes uma nova forma de histórias começava a surgir. Seus temas eram adultos contendo teor de violência e com pitadas de sensualidade. Dessa nova temática surge HQs como Cavaleiro das Trevas, Watchmen, Piada Mortal, Sandman  entre outros, mas entre elas passando a margem da fama anabolizada dessas HQs temos Orquídea Negra, roteirizada por Neil Gaiman e ilustrada por David Mackean, também devemos ressaltar a incrível HQ especial Elektra Assassina, ambas em minha modesta opinião não deixam nada a desejar em termos de revolução temática adulta.

Observa-se que não importa quem escreva as personagens seja um Greg Rucka ou uma Gail Simone, não importa o sexo das personagens femininas com seu carisma, audácia e perseverança vem cada vez mais ganhando espaço e o gosto de roteiristas e artista, como Batwoman, Lince Negra, Morte, Elektra, são algumas personagens que ganham espaço no mundo dos super heróis, mas podemos falar de outras HQs de detetive noir como Whiteout: ponto de Fusão de Greg Rucka e Steve Lieber, outra Coffin Hill roteirizada por Caitlin Kittredge e ilustrada Inaki Miranda, Estranhos no Paraíso de Terry Moore, A hora da Magia de Jeph Loeb e ilustrada por Chris Bachalo, A balada de Halo Jones e Promethea, ambas de Alan Moore e desenhada a primeira por Ian Gibson e a segunda por Williams III são muitas HQs maravilhosas que podemos listar em seu enorme elenco cheias de figuras femininas e suas aventuras nas páginas impressas de uma HQ.

É importante essa representação em todos os níveis nos impressos de quadrinhos, os tempos são outros e exigem seguir o rumo dos acontecimentos. Os heróis não deixarão de serem “heróis” se não tiver uma mulher necessitando de auxilio. Eles também evoluíram e seus dramas são profundos e existenciais, indo muito além da dependência de sua masculinidade, da violência e testosterona. Nas páginas de HQs vemos personagens não importa seu gênero enfrentando problemas do dia a dia, até mesmo cruzando a galáxia, ou desembarcando em um cargueiro com armas na mão para enfrentar a ameaça alien, basicamente nas páginas de HQs o gênero pouco importa, contar a história do personagem, independente de quem seja é o que importa. Se o leitor se identificar com o personagem, seja ele masculino ou feminino e isso é possível! Qualquer leitor vai ler e se divertir com uma boa história sem olhar ou perguntar o sexo do personagem. Basta á história ser atraente e divertida e isso independe de qualquer gênero do personagem. Podemos dizer que a própria história é assexuada ou hermafrodita ou pansexual, isso não importa o que importa é contar a própria história.

Atualmente é possível encontrarmos artistas femininas ilustrando ou roteirizando HQs de Capitão America, Batman, Homem Aranha, Superman, como podemos constatar homens roteirizando ou ilustrando personagens femininas como Jessica Jones, Batwoman, Mulher Hulk, Spider Gwen e por ai vai. Hoje em dia tanto personagens quanto artistas sejam masculinos ou femininos, trabalham com competência na produção e narração dessas maravilhosas histórias e nenhum deles deve nada ao outro. Todos trabalham de forma competente e em nível igual. Mesmo assim não podemos deixar de identificar ainda uma crosta machista em alguns leitores e artistas que não abandonaram a infância e continuam congelados em seus dogmas de homens de bem. Essa situação de homens enxergar as artistas femininas como ameaça mostra o quanto temos de vencer o pensamento patriarcal existente na sociedade e nos conscientizar que o machismo instituído ainda existe e deve-se melhorar, para que não nos congelemos em um tempo em que já não existe espaço para alguém pensar ser superior a outro, seja em gênero, número ou em grau. Penso que o movimento das controvérsias sobre o assunto já indica uma mudança de paradigma na atualidade e que bom que estamos conversando sobre isso.