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Por um jornalismo sem estrelas

Fundador de Navegos reflete sobre sua prática jornalística, já quase cinquentenária, sempre voltada para pessoas que, segundo a visão dos diretores de redação da época só eram notícias quando cometiam alguma espécie de crime ou contravenção.

*Franklin Jorge

Disse o estilista Edgar Barbosa que um dos fatores que fazem uma publicação jornalística ter sucesso é o elemento novidade. O jornalismo, em qualquer circunstância, precisa surpreender e fazer-se notar pela novidade.

Infelizmente, sobretudo entre nós, o que vemos? Um bando de escrevinhadores que em sua maioria já está com o prazo de validade há muito vencido, continua dando as cartas ou procurando dá-las, quando o que se lê é a repetição antes impressa e agora digital. Mudaram os meios, mas os velhos hábitos continuam a regurgitar em torno das mesmas velhas figuras, como se continuássemos a viver em um mundo de valores imutáveis.

Ora, tudo muda neste mundo e numa velocidade que às vezes não conseguimos acompanhar. Por mais esforço que façamos, temos sempre a impressão de estarmos na rabeira de tudo, em especial, no mundo da política, onde uma plêiade de carcomidos se faz aplaudir por quem já não tem mãos para escrever a verdade.

Um dos fatores que tem passado despercebido, por exemplo, é a morte da chamada “crônica social”, que não mais apita nada, como antigamente, quando imperavam figuras e figurinhas como J. Epifânio e J. Oliveira, de quem ninguém se lembra mais. Tudo isto é passado, como os velhos articulistas políticos que davam as cartas, como Serejo, hoje meramente uma figura gordalhona e apagada que só consegue transitar em torno do que não mais nos diz nenhum respeito.

Esse gênero de colunismo político-social, ainda sobrevive aqui e ali, em pequenas cidades do interior e não pesa no conjunto geral das coisas que buscam outros eixos gravitacionais. É escusado lembrar que Navegos surgiu com outras diretrizes, talvez inspiradas naquele jovem jornalista chileno que hoje é objeto de estudos da Fundação Fulbright, que percebeu a realidade e transferiu a redação para as ruas do mundo. De certa forma, já fazíamos o que ele passou a fazer, ao dar voz a quem não tinha voz, a entrevistar pessoas do povo quando os editores se babavam em torno daqueles que ainda mandavam sem questionamento.

Se não me equivoco, fui dos primeiros aqui, se não o primeiro, a ouvir agricultores e antigas apanhadoras de algodão, por exemplo, não porque eles tivessem roubado alguma galinha, mas por seu saber empírico que fala mais alto do que a maioria dos titulados.

PS – É preciso reinventar urgentemente o jornalismo! antes que o pobrezinho acabe de vez.