• search
  • Entrar — Criar Conta

Por sua liberdade, lute!

Então, é o seguinte, afirma Colaborador de Navegos: Se você não está afim de aceitar bovinamente uma argola eletrônica em suas ventas, lute.

*Valterlucio Campelo

[email protected]

Em um pequeno artigo para a BBC NEWS, em 2015, o grande filósofo conservador contemporâneo britânico, Sir. Roger Scruton, falecido há pouco mais de um ano, trata “da arte de se ofender e da liberdade de expressão”. Ele sua inicia sua argumentação questionando o poder ofensivo de piadas e opiniões politicamente incorretas, relativas, por exemplo a raça e sexo.

Em certo trecho ele vai ao ponto que me parece mais importante: “O que houve de mais destrutivo na propaganda nazista não foi a expressão daquelas opiniões horríveis, mas a supressão daquelas que a refutavam. Foi a falta de liberdade de expressão que fez com que as ideias nazistas fugissem do controle, livres dos argumentos que as exporiam ao ridículo”. É como estamos a viver nos dias atuais, ou seja, assim como o nazismo, o politicamente correto pretende nos impor uma valoração de teses que se tornam hegemônicas somente devido a falta de debate público. Quem pensar de modo contrário à pauta dessa gente perde a liberdade de exprimir seus argumentos. É como se o time vermelho expulsasse o time azul do campo e jogasse sozinho.

O mais evidente sinal de que estamos em vias de dominação total é a cultura do cancelamento, segundo a qual o sujeito que sai das balizas progressistas deve ser expulso como se portasse alguma moléstia. Para ajudar no processo, inventaram a torpeza chamada “lugar de fala”, que é a pretensão de que o indivíduo somente se expressa se possuir previamente determinadas condições definidas pelo grupo dominante. Ora, ora. Se somos livres, qualquer lugar é lugar de fala meu e de qualquer um. Aceitar essa presepada é repartir o debate em tantas “assembleias” que, ao cabo, perdemos o sentido de sociedade aberta.

Outro, também inaceitável, é o bloqueio imposto pelas plataformas de mídias sociais. As maiores, aquelas que iniciaram essa transformação que vivemos na comunicação e, consequentemente, detém maior abrangência e importância, deram-se o direito de censurar as nossas postagens e fazem isso impunemente. O que seria um recurso contra crimes do tipo racismo, homofobia, pedofilia etc., passou a ser utilizado para controlar a nossa percepção da realidade.  Como pretexto, os donos das bigtechs apresentam um novo argumento – o combate às fake news.  Nada mais falso.

Pode-se dizer que, pelo menos parcialmente, a comunicação entre os indivíduos no mundo se dá por critérios de meia dúzia de empresas, sob o pretexto de que determinadas mensagens (as que eles escolhem) são ofensivas ou falsas, quando são apenas contrárias à sua agenda.

Como diz Scruton no livro “Pensadores da Nova Esquerda”, de 1985, “A incapacidade de discutir com oponentes, de abrir a mente para a dúvida e para a hesitação é uma característica enraizada na nova esquerda. Todas as discussões são travadas com aqueles que partilham as mesmas ilusões fundamentais, e – permanecem como argumentos dentro do marxismo, nunca fora dele. Exatamente a mesma incapacidade é demonstrada pelo governo comunista, que faz escolhas fundamentais sem o benefício da dúvida e de medidas corretivas.”

O extraordinário poder dessas organizações está sendo usado não apenas para pautar o debate público nos limites do politicamente correto e do progressismo globalista, diminuindo as possibilidades de comunicação do conservadorismo, mas também para promover e derrubar governos. A eleição recente nos EUA é a prova mais contundente da força com que agem, suprimindo a liberdade de expressão do oponente e, com isso, solapando a própria democracia. Acredito que veremos algo bem parecido aqui no Brasil até o próximo ano.

Hoje em dia o sujeito pode dizer que Stalin era um democrata, negar o Holodomor, afirmar que Mao foi um humanista, propagar as “delícias” do regime cubano, consagrar o socialismo como o regime do progresso econômico e não será molestado, não receberá aviso de fake news, de homenagear genocidas ou de postagem contrária aos princípios da plataforma. Porém, se divulgar pesquisas científicas que não endossem a OMS, ou, ao menos dizer que o médico tem o direito de tratar o paciente de COVID ao invés de mandá-lo pra casa esperar a falta de ar, será severamente punido. Como uma guilhotina, o algoritmo cortará a sua cabeça, digo, a sua “língua”. Parece óbvio que não se trata realmente de princípios, de zelo pela verdade, mas de uma ideologia e do controle da liberdade de expressão para não ter que enfrentar argumentos contrários.

Mais recentemente sob protestos de muitos cidadãos prevenidos contra o ataque às liberdades individuais, criaram o passaporte sanitário, uma espécie de carimbo que separa as pessoas e as classifica. A mídia esconde, mas você pode ver que na Europa há muita resistência. O passaporte é quase uma estrela amarela grudada no peito. Os vacinados na primeira classe, os não vacinados na segunda classe em direitos e condições de vida social. Atividades prosaicas, como ir ao mercado, estarão sujeitas ao escrutínio. Seria um passo para a guetização de parcela da população?

Tudo isso leva a algo terrível que é o medo crescente de falar sobre qualquer coisa que não seja politicamente correta ou previamente consentida, estabelecendo assim uma espécie de autocensura, de autocontrole sobre o próprio pensar, de robotização de nós mesmos. No mesmo sentido, aliás, a própria linguagem está sendo moldada. Por todos os lados a liberdade do indivíduo está sendo atacada.

Então, é o seguinte. Se você não está afim de aceitar bovinamente uma argola eletrônica em suas ventas, lute. Se perceber que a sua liberdade está sendo perdida feito um salame, em fatias, como disse Hayek, lute. Cada concessão que fizer à esquerda e seus truques progressistas dificilmente será recuperada. Quando, na trincheira, lhe parecer estar em má companhia, pense que o verdadeiro adversário está do outro lado e lute. Com os companheiros malquistos nos entendemos depois.

ILUSTRAÇÃO A liberdade guiando o povo, pintura de Eugène Delacroix (1789-1863)