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Pequenas editoras fazem a diferença

Colaborador de Navegos, pesquisador e divulgador de HQs chama a atenção do leitor para a importância de pequenos empreendimentos.

*Renato de Medeiros Jota

Sabemos as dificuldades existentes para as editoras pequenas diante das editoras gigantes que dominam o mercado e já são estabelecidas. Ainda por cima, tendo que enfrentar uma concorrência com essas empresas já no mercado há muito tempo, as editoras pequenas ainda têm a dificuldade do baixo consumo do publico leitor que no nosso país é pequena, minúscula para ser sincero. O que torna, então, um desafiador ainda maior para uma editora iniciante conseguir ser bem sucedida em suas publicações.

O começo para o sucesso é identificar o publico que se deseja atingir e o assunto que os atrai. Nisso consiste o possível sucesso da editora e o seu diferencial, nesse caso o que encontramos em comum entre essas editoras é o nicho explorado, o terror. Localizado o publico e seu tema preferido, as editoras iniciantes centralizam sua busca em agregar a esse interesse o diferencial que fará suas publicações únicas e raras, devido o material extra. Acrescenta-se posfácios inéditos do autor, algum conto inédito do escritor acrescentado ao fim da publicação. Até mesmo, ilustrações magníficas que adornam a obra e lhe acrescenta uma identidade própria.

O fato é que o gênero do terror, fantasia e ficção cientifica vem atraindo o gosto de um público seleto de aficionados por tais temas e editoras de pequeno porte e de poucos recursos tem apostado nesses publico que crescente. Mas para poder concorrer com as grandes editoras do país é necessário perceber o que uma publicação pode conter para chamar o leitor e cativá-lo, residindo nesse quesito o grande desafio de qualquer editora.

Essa diferença por explorar nichos como o terror, fantasia e ficção é o que atrai e faz as pequenas editoras ganhar espaço diante das gigantes do mercado editorial como Record, Companhia das Letras, Objetiva, Sextante, Estação Liberdade entre outras. Outro fator, é a busca de acrescentar um “diferencial” a obra, seja pelo ineditismo da publicação no país, por seu acabamento editorial, muitas vezes de um bom gosto tremendo na escolha do design. Continua essa busca pelo aprimoramento do que é publicado nas ilustrações internas, escolha do papel, fonte, tradução e seleção de textos acadêmicos que analisam a obra e as coloca histórica e socialmente no contexto do que é escrito para o leitor. Esses acréscimos fazem todo o diferencial para o produto final e o resultado que chegará ao leitor.

A escolha por tratar de forma séria e considerar o leitor como um participante da edição, fazendo uma obra com poucas tiragens e selecionando, junto com ele, por meio virtuais como a internet, dialogando sobre a obra revisão, escolha de tradução, trás o leitor para fazer parte igualmente da tradução e seu interesse só aumenta para adquirir o produto final. No fundo ele se sente também um colaborador da obra e o estimula a revisitar outras publicações.

Editoras como a Clock Tower, a Diário Macabro, Editora Wish, Editora Sebo Clepsidra, Editora Nefelibata e algumas outras, vem trabalhando com autores e obras praticamente inéditas, ou há anos fora de catalogo no Brasil. Na maior parte de suas publicações abordam o terror gótico, e muitas vezes passam pelo romantismo e outros gêneros literários, sempre procurando acrescentar o diferencial a cada obra publicada.   Exemplo de dedicação é a Diário Macabro, sua atenção e cuidado dado a obra do escritor inglês William Hope Hodgson com a publicação da “A casa do limiar e outros contos”. Além disso, a editora resgatou outro autor do anonimato, John W. Campbell com seu livro “O enigma de outro mundo”.

No catarse fundo de Crowndfouding colaborativo, a Diário pretende pela primeira vez no país, trazer do autor Charles Brockden Brown o inédito livro chamado “Wieland”, considerando o primeiro livro representante do gótico norte americano. Outro esforço, nesse sentido de publicar obras relevantes de autores de terror, encontra-se na editora Clock Tower. O objetivo do Editor Denilson e trazer ao publico admirador do terror os escritos de Howard Phillips Lovecraft e autores dessa época. Para o editor o escritor de providence e das Weird Tales foi mau publicado no país e já passava do tempo de alguém notar o valor de sua escrita e imaginação.

Vale ressaltar a importância que a escrita e mitologia de Lovecraft tem, que o coloca no nível de ícones da literatura fantástica como Tolkien e C.S. Lewis na atualidade. Percebendo isso há anos, podemos dizer que Denilson, ciente desse deslize das editoras percebeu um publico leitor e consumidor desse material, tornando a Clock Tower a vanguarda dessa tendência de centrar nas publicações de nicho.

No esteio desse mercado a ser explorado, surge editora Wish, que publicou recentemente o livro Sleep Hallow: o cavaleiro sem cabeça através do financiamento coloborativo catarse. Seu foco de publico engloba o terror, mas também visa resgatar autores e autoras esquecidos pelas grandes editoras como a rainha do ignoto criada pela cearense Emilia Freitas demonstra que existe um nicho de leitores que gostam de literatura de terror, mostrando existir publico a ser explorado e percebeu um mercado promissor.

Outra pequena editora surgida para explorar as possibilidades da literatura gótica de terror e outros temas inéditos no país encontramos representado pelo sebo Clepsidra, que vem publicando obras clássicas de terror e literário universal. Obras como Hinos á noite de Novalis, Caim: um mistério de Lord Byron, O vampiro de J.W. Polidori entre outras tantas que publicou. Vale destacar uma a pequena editora carioca chamada Nephelibata, talvez a mais antiga das pequenas editoras, que surgiu com a proposta de publicar obras e autores abandonados ou escanteados pelas grandes editoras. Outra coisa que difere a Nephelibata das demais editoras pequenas são suas publicações limitadas que acabando dificilmente tem republicação.

Nesse sentido, o que vale ressaltar aqui é a força das publicações alternativas das pequenas editoras que vem crescendo e transformando o cenário livresco até então estagnado tanto pelo mercado pela falta de originalidade também. Por isso é um alivio saber e presenciar o surgimento de editoras pequenas que conseguem cativar um publico leitor e consumidor ativo de literatura. Por enquanto termino minha reflexão por aqui, na esperança de ver muitas outras obras e editoras surgirem com força e fazer com que cada vez mais leitores surjam. Valeu a todos e se sintam abraçados.