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Padre Pinto

Navegos reproduz mais uma crônica da série Actas Diurnas, nas quais se conta a história popular de Natal, escritas por Luis da Câmara Cascudo e publicadas pela gentileza do Ludovicus – Instituto Luís da Câmara Cascudo, presidido por Daliana Cascudo Roberti Leite, que autorizou a publicação.

*Luís da Câmara Cascudo

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Em fevereiro de 1888 a Câmara Municipal mudou o nome da Rua do Fogo para Rua Padre Pinto. Não mudaram a denominação, mas rara será a pessoa que recorde o Padre Pinto, patrono da rua, famosa pelas alegrias e festas passadas.

O Padre Manuel Pinto de Castro, Padre Pinto, era irmão de Frei Miguelinho, filho do português de igual nome ao seu e de D. Francisca Antônia Teixeira.

Tive a fortuna de encontrar as datas extremas da existência do Padre Pinto. Do nascimento e batizado deparei logo em duplicata, no mesmo livro, desirmanado, incompleto, rasgadíssimo,  que está no arquivo do Instituto Histórico.  Por ambos os assentos, assinados poema mesmo vigário da matriz, Padre Pantaleão da Costa de Araújo, verifica-se que o reverendo padre coadjutor do Padre Bonifácio da Rocha Vieira, batizou e pôs os santos óleos em Manuel, duas vezes a 20 de setembro de 1774, e a 22 de setembro de 1774. O nascimento se deu a 30 de agosto ou a 3 de agosto do mesmo 1774. O segundo registro não alude, dez páginas antes, não alude ao primeiro.

Assim religado à Igreja Católica o pequeno não podia deixar de ser padre, e se ordenou, onde e quando ignoro, presbítero do hábito de São Pedro. Teve, como se sabe, três irmãos sacerdotes.

Foi o primeiro presidente do Conselho geral da Província, instalado a 1º de dezembro de 1’830, membro do Conselho }Geral do Governo, coadjutor da Matriz, secretário do governo sob a administração do Tenente-Coronel José Inácio Borges, vice-presidente da Assembleia Provincial logo na legislatura inicial, 1835-37, presidindo ainda a Junta do Governo, eleito e empossado a 18 de março de 1822 e que governou até 24 de janeiro de 1824.

Como membro do conselho da Província administrou duas vezes, de 2 a 24 de setembro de 1832 e de 8 de outubro de 1832 A 23 de janeiro 1833.

Quando se proclamou a Independência do brasil,  Padre Pinto governava o Rio Grande do Norte, coube-lhe a honra de presidir os festejos oficiais e jurar fidelidade ao Imperador D. Pedro 1. As comemorações tiveram ligar nos dias 20, 21 e 22 de janeiro de 1823. Missa solene e Tede Um que o escrivão vitalício da Câmara, Manuel José de Morais escreveu Tedeu, na Matriz, luminárias nas casas particulares. O Padre Pinto a 22 de Janeiro de 1823, presidente da Junta de Governo, dirigiu a cerimônia da Aclamação Imperial,  na Rua Grande, diante da matriz com a gente ilustre, tropa de primeira e segunda linha, Senado da Câmara, membro dos governo, clero nobreza e o povo que acompanhou as três vivas.

Depois todo mundo assinou o “Termo”, registrando ato solene.

O Padre Pinto morou na Rua do Fofo, mas, nos últimos anos residia no número 716 da Rua Santo Antônio, onde faleceu. Nessa casa nasceu e morreu seu sobrinho e afilhado Bonifácio Câmara, coronel Bonifácio, chefe Conservador.

O Padre Pinto era uma criatura pequenina, gorda, andando depressa, gostava de ouvir histórias e achando graça nas anedotas. Esperava a hora da ceia debaixo das gameleiras da praça da Alegria, até que o escravo o viesse, ao toque das Trindades, avisar que a comida estava na mesa. Padre Pinto respondia com a mesma pilheria: Tire da mesa  e bote nos pratos, Zeferino.

Apesar de querer imensamente ao seu escravo, Padre Pinto deu uma dúzia de bolos em Zeferino, porque esse anunciou uma chuva e essa não veio.

– Não quero físicos, astrólogos e adivinhos em minha casa, está ouvindo Zeferino?

Era, entretanto, politico decidido0, implacável e amigo dos amigos. O tempo adoçou-o tornando sereno, tolerante e adorado por todos. Faleceu no mês em que completaria 76 anos.

Morreu a 2 se agosto de 1850. Sepultaram-no na matriz. Anos depois seus ossos foram enterrados no Cemitério Público, num túmulo de alvenaria que ainda resiste.

O resto, o tempo, com as suas mãos de cinza, pagou…

A República, 09 de junho de 1942.