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O comerciante que virou fazendeiro

Colaborador de Navegos, jornalista e artista naif desfia a memória em busca do tempo perdido que esconde sua mocidade em Ribeira do Pombal, Bahia.

*Reynivaldo Brito

Confesso que hesitei muito para escrever este texto falando de meu pai. Porém, mesmo depois de ouvir de alguns amigos e parentes que deveria falar sobre ele ainda passei algum tempo com esta dúvida se deveria, e como as pessoas cujos antepassados ainda não foram lembrados como iriam reagir. Até que num domingo pela manhã senti muita saudade de meu pai, como se me faltasse algo de referência. Foi aí que passei a lembrar de sua luta e de suas andanças em busca de prover a sua sobrevivência e da família.

Durante a Segunda Guerra Mundial muitos jovens fugiam do Alistamento Militar obrigatório com receio de serem convocados e enviados para os campos de batalhas na Europa, que tinha sido invadida pelos nazistas de Hitler. Foi assim que meu pai terminou indo para a casa de seus parentes no estado de Sergipe, em 1942, e lá conheceu Nivalda Dantas Brito, minha mãe, sua prima carnal, e terminaram casando. Nasceu em Ribeira do Pombal em 29 de abril de 1916, filho de João Ferreira de Brito e Beatriz Vieira Jacobina Brito, que o batizaram como o nome de Reynaldo Jacobina Brito. Tinha um total de 19 irmãos e irmãs fruto três dos relacionamentos de seu pai, e de dois de sua mãe. Media 1,97 e pesava mais de cem quilos. Quando era jovem sempre foi magro, mas com a idade avançando ficou corpulento e as pessoas o chamavam de Reinaldão, devido ao corpanzão e sua voz grave.

Aparentemente parecia uma pessoa sisuda daquelas que procuramos guardar distância, mas para os que o conheceram na intimidade sabem que embora tivesse um temperamento explosivo, era uma pessoa dócil e sensível. E tinha qualidades que hoje reconheço a cada dia que passa. Que eram a gratidão, solidariedade, sinceridade e lealdade com os amigos. Nas horas de dificuldades nunca os faltou. Sempre foi um empreendedor quando manteve seu comércio gerando emprego e renda para o município. Quando decidiu ser produtor rural se destacou como criador de gado leiteiro, trazendo para o município matrizes de outros estados para melhoria do rebanho, e também dando emprego a muitos da zona rural.

Meu pai depois    resolveu mudar para a cidade de Jacobina, para ficar junto a seu tio, cujo nome lhe foi dado ao nascer em homenagem a ele. Seu tio Reinaldo Vieira Jacobina era um criador de gado de destaque, foi Intendente da Cidade. Lá foi trabalhar em Jacobina e por estas coisas do destino nasci naquela que é a porta de entrada da Chapada Diamantina. Pouco tempo depois meu pai mudou para a cidade de Caldas de Cipó, onde nasceu minha irmã Indaiá. Nesta época estavam sendo realizadas várias obras importantes como o Grande Hotel de Cipó, dentre outras, e com seus caminhões chegou a transportar materiais como cimento, tijolos etc.

Voltamos para morar em Ribeira do Pombal, onde meu irmão Nirvan nasceu, e depois fomos para a Cidade de Riachão dos Dantas, no estado de Sergipe. Ficamos morando entre a cidade e a fazenda Cambui, que minha mãe herdou de seus pais. Ainda criança viemos morar novamente em Ribeira do Pombal, onde passei minha infância e juventude, cresci e nasceu minha irmã Iara. Meu pai teve mais dois relacionamentos, portanto, além dos quatro filhos do primeiro casamento, tenho ainda mais quatro irmãos, e nos relacionamos muito bem:Juscy, e Ronaldo, Edson (Bebé) e Magda, sendo que os dois últimos já falecidos.

Nesta época nos anos 40 e 50 meu pai labutava com caminhão, e foi um dos primeiros que ia até a distante capital paulista comprar e trazer para Ribeira do Pombal. Naquela época os caminhões vinham sem a carroceria, que eram feitas em Alagoinhas e no estado de Sergipe, se não estou enganado na cidade de Estância. Não possuía muitos caminhões, normalmente eram dois, e chegou a ter três deles. Foi num desses caminhões que meu pai providenciou uns bancos de madeira na carroceria e vários amigos e amigas se juntaram e fomos ver o Presidente Getúlio Vargas, que desceu no aeroporto de Caldas de Cipó para inaugurar o Grande Hotel e outras obras na Cidade no dia em 23 de julho de 1952. Tinha gente de todas as cidades do entorno, e lembro que o aeroporto de Cipó ficou lotado de pequenas aeronaves. Foi uma festa inesquecível.

Era criança, mas recordo das pessoas entusiasmadas esperando o velho caudilho. O hotel floresceu e foi logo inaugurado Rádio Hotel e um anexo onde funcionava o cassino que tinha belas pinturas do médico cirurgião Genésio Salles e também de Sinézio Alves, este último o conheci na redação do jornal A Tarde.  Os afrescos estão aos poucos desaparecendo devido ao abandono a que foi relegado todo o conjunto arquitetônico da estância como também o belo Balneário. O jardim foi construído em estilo francês, inclusive os postes vieram da França. Hoje, está completamente desfigurado, basta comparar as fotos antigas com as de agora. É hora dos moradores se movimentarem para salvar estes importantes prédios que marcaram a história e o desenvolvimento da Cidade.

Neste dia ocorreu um fato interessante que se transformou quase numa lenda para alguns. Um jovem pombalense foi até Caldas de Cipó com o intuito de pedir a Getúlio Vargas uma bolsa de estudos. Seu nome é Guido Mariano de Santana. Ele conseguiu furar o sistema de segurança do Presidente que o atendeu e até o convidou para morar no Rio de Janeiro, que era a Capital da República. Mas, talvez ficara com receio, e não aceitou. Getúlio chamou um de seus auxiliares que tomou todos os dados de Guido que ganhou uma bolsa de estudos indo estudar como interno no Liceu Salesiano do Salvador. Ele é irmão de Manoel Hugo de Santana, o Manoelito, (falecido) que foi esposo da tia Orádia Jacobina Santana. Atualmente atua como advogado principalmente de entidades sindicais.

Quando moramos em Caldas de Cipó a cidade recebia muitos turistas e os hóteis davam grandes festas. Lembro que ainda tinha o hotel de Manoel Paiva, se não me engano chamava-se Hotel Guanabara, que também ficava próximo ao jardim. Este jardim foi mandado fazer pelo general Juraci Magalhães ele tinha sido nomeado Intendente pelo Getúlio Vargas. Certo dia veio visitar a Cidade e viu a beleza do Grande Hotel, e a praça era um areal. Então, encomendou a um arquiteto italiano que fizesse um projeto do jardim. Daí o italiano fez baseado em jardins franceses.

Naquela época a estâncias hidrominerais bombavam porque era permitido o jogo de azar, como acontece em cidades como Las Vegas, nos Estados Unidos; Punta Del Este, no Uruguai e o Cassino de Monte Carlo, no Principado de Mônaco, só para citar alguns exemplos.   Caldas de Cipó, na Bahia, era frequentada por turistas do mundo inteiro. Quando o Presidente Gaspar Dutra assumiu houve uma pressão da igreja católica e de sua mulher. Ele terminou proibindo o jogo de azar no Brasil. Em pouco tempo as estâncias hidrominerais do país entraram em decadência. Atualmente, existe um movimento pela volta do jogo de azar, mas tem uma forte corrente de parlamentares cristãos contra.

Logo depois meu pai começou a se estabelecer como comerciante montando uma loja de peças de automóveis e caminhões, onde tinha duas bombas, uma de gasolina e outra de óleo díesel, e um bar anexo que a gente chamava de Abrigo. Naquela época os carros eram movidos apenas por estes dois tipos de combustíveis, que eram transportados em tambores de metal, e quando chegavam, através de uma grande mangueira adaptada ao tambor eram transferidos   para os tanques subterrâneos. Era um serviço perigoso e penoso. Hoje, o caminhão tanque é conduzido por um motorista, e ele mesmo faz a transferência do combustível para os tanques subterrâneos. Uma operação bem mais fácil. Meu pai teve ainda uma farmácia e uma casa de móveis. A farmácia funcionava próximo a casa de Ferreira Brito, a qual foi cedida para meu tio João Jacobina, (Joãozito) e depois foram proprietários dr. Décio de Santana e Wilson Brito.

Nesta época estavam sendo construídas as usinas de Paulo Afonso e tinha grande movimentação de caminhões especialmente transportando peças e maquinário. As estradas não eram asfaltadas e muito mal conservadas. Com isto ocorriam acidentes e também muitos defeitos nos caminhões. Lembro que um dia estava com meu pai conversando na sua casa de peças quando parou um carro vindo do sul do país, e o senhor que o dirigia tinha vindo com a família seguindo o roteiro traçado num mapa do Guia Quatro Rodas, que era o GPS da época. Ele estava indignado porque o trecho entre Tucano e Ribeira do Pombal estava assinalado como sendo asfaltado, e ao contrário, era uma pista horrível com grandes “camaleões” de areia e ele quase não consegue passar. Desde àquela época que a corrupção já existia. Dizem que por diversas vezes desviaram o dinheiro do asfaltamento daquele trecho de estrada.

Lembrei de um triste acidente com um dos rapazes que faziam o serviço de transportar o combustível dos tambores para os tanques subterrâneos. Ele tinha acabado o serviço e gostava de tomar umas cachaças. Deitou para descansar nos fundos do Abrigo quando uma pessoa veio brincar colocando um “mosquitinho” no dedo do pé dele. Ao acender o fósforo para ativar o “mosquitinho” pegou fogo na roupa do rapaz que dormia e veio a falecer. O “mosquitinho” era feito de um fósforo queimado, até virar um carvão fininho. Este palito queimado é colocado entre os dedos de uma das mãos ou pés, e em seguida é aceso. Aí vai queimando até encontrar a pele do coitado. Dá uma dor terrível, e a pessoa acorda muito assustada.

Teve uns anos de muita seca no Nordeste e ocorreu uma grande fuga de nordestinos famintos de vários estados em busca de sobrevivência no sul do país, especialmente em São Paulo. Eram os chamados paus- de- araras que eram transportados ilegalmente em caminhões com bancos de madeira improvisados em suas carrocerias e uma lona servia de cobertura. Um desconforto e um sofrimento que duravam dias até chegarem em São Paulo, e lá serem despejados como uma mercadoria de segunda linha. Eles viajavam sem qualquer referência, poucos tinham parentes ou conhecidos na capital paulista. Numa certa noite um desses caminhões parou em frente ao Abrigo, que era o bar de meu pai, uma espécie de lanchonete, e pediram tudo que tinha de mercadoria. Comeram, beberam sucos, refrigerantes, cervejas e em seguida saquearam até os bolos que minha mãe fazia com tanto carinho e lá colocava para vender. Os empregados foram acuados, mas não praticaram violência contra eles. Lembro que meu pai disse mais ou menos assim: ” É a fome! Os desgraçados saem de suas rocinhas e dos povoados em busca de algum trabalho para viverem São Paulo. Vamos limpar tudo e tocar a vida”.

Noutra ocasião chegou na sua casa de peças um caminhoneiro se passando por maçon. Tinha pouco tempo que ele entrara para a Loja de Maçonaria de Alagoinhas. Foi ele e vários pombalenses. O caminhoneiro malandro cumprimentou-o com o sinal de Maçon e inventou que seu carro quebrara e ele estava sem um tostão sequer para prosseguir viagem. Na época a comunicação era muito difícil, e não sei porque não buscaram e aguardaram informação da Loja Maçônica a que ele dizia pertencer, no Rio Grande do Sul. O fato é que os maçons se juntaram mandaram consertar o caminhão do sabidório e deram dinheiro para seguir viagem. Quando conseguiram contato com a Loja que ele disse que pertencia descobriram que era um estelionatário. Ai os maçons ficaram bravos e foram esperar o tal caminhoneiro algumas vezes na estrada durante a noite, inclusive veio gente de fora ajudar. Mas, felizmente nunca o alcançaram.

Anos depois com o falecimento de meu avô João Ferreira de Brito, Ioiô Ferreira, como era mais conhecido através uma movimentação de tio Milton Jacobina de saudosa memória, reuniu os irmãos e irmãs e os convenceu a vender as partes de cada um a meu pai. Foi assim que ele comprou as outras partes dos herdeiros e passou a administrar a Fazenda Salgadinho. Já possuía algumas terras nas localidades de Bodó e Pinto, inclusive acompanhei de perto a sua luta para derrubar a mata e transformar em pastagens. Portanto, paulatinamente foi se afastando do seu comércio para ser produtor rural. Aí fez algumas viagens para Minas Gerais e Itapetinga, na Bahia, outros locais visando melhorar o seu rebanho. Gostava de vacas leiteiras, embora tivesse alguns de engorda. E de plantar feijão e milho. Falando outro dia com Nilson Brito, ele lembrou de uma viagem que fizeram para a cidade de Curvelo, em Minas Gerais, onde meu pai comprou algumas vacas de leite de boa linhagem. Nilson Brito e Antônio Pereira Costa, o Antônio Chorão, e Mário Luz, já falecido, foram comprar em Governador Valadares, também no estado mineiro, e trouxeram para a melhoria do rebanho em Ribeira do Pombal. “Reinaldo foi muito meu amigo e viajamos juntos várias vezes para Itapetinga, Mundo Novo, Itaberaba, dentre outros lugares. Foi um lutador no comércio e na pecuária em Ribeira do Pombal. Dos anos 1970 até seu falecimento mantivemos uma forte amizade. Era o maior fornecedor de leite daqui. Lembro que um dia ao chegarmos de uma dessas viagens quando paramos o carro em frente de minha casa ele disse a Lúcia minha esposa: D. Lúcia o seu marido é uma grande pessoa. A gente só conhece bem a pessoa viajando ou sendo vizinho”.

Nas fazendas Salgadinho e Pinto meu pai sempre labutou com gado de leite e alguns para engorda. mas, principalmente gostava de mexer com leite. Inicialmente, o leite vinha no lombo de burro, depois numa carroça, e finalmente, numa camionete.  Me contou meu irmão Nirvan, que é médico e reside na cidade de Santo Estevão, na Bahia, que um certo dia a caminhonete de meu pai deu problema e teve que providenciar outra com um amigo, enquanto a sua consertava. Surgiu um problema teve que viajar até Feira de Santana para resolver.  Estacionou o carro e quando retornou alguém havia batido na camionete do amigo e evadiu-se. Chegando em Ribeira do Pombal foi logo procurar o amigo e disse mais ou menos assim: “Não trema o beiço e nem fungue. Quanto você quer pela camionete? ” Aí chegaram ao preço que lhes convinham, e o negócio foi fechado. Na realidade a camionete era sub utilizada pelo amigo. Então ele revelou que tinha acontecido, e a amizade continuou sem nenhum arranhão.

Certo dia estava sentado num grande banco de madeira que ficava na varada da frente da Fazenda Salgadinho conversando com ele quando chegaram dois funcionários de destaque da agência do Banco do Brasil. Vieram lhe oferecer um empréstimo para plantio de milho e feijão. A seca estava terrível e meu pai com a sua experiência explicou que naquele ano não era aconselhável plantar. Teria que esperar o clima melhorar. Foi ai que um dos funcionários disse-lhe: “Se não chover e perder o plantio o seguro cobre o prejuízo”. Aí lembro que ele respondeu: Mas, não é honesto plantar sabendo que não vai colher. Prefiro não plantar”.  Então o outro respondeu: “Este dinheiro do empréstimo para plantio o senhor aplica em outra coisa”. Ele agradeceu e recusou o empréstimo. Depois fiquei sabendo que vários tomaram empréstimos e o seguro pagou os prejuízos e ainda tiveram lucro.

Meu pai tinha uma coisa que sempre admirei que se chamava gratidão. Ele não abria mão de sempre agradecer aos que de alguma forma lhe ajudaram, serviram trabalhando em seu comércio ou em suas terras. Basta lembrar que quando aconteceu a debandada de muitos amigos que acompanhavam na política por vários anos seu primo Ferreira Brito, ele continuou dando seu apoio. Por seu jeito de ser nunca foi um agregador de centenas de votos. Os poucos que conseguia eram de parentes, funcionários e de muitos compadres da zona rural. Lembra Zé Grilo ” que algumas reuniões para composições políticas e até para a busca de um candidão foram realizadas na sua Fazenda Salgadinho com as presenças de  Oliveira Brito e Ferreira Brito, dentre outros. Gostava de contribuir com as festas da padroeira da Cidade, Santa Tereza D´Ávila, sempre que possível doando um garrote ou um ovino para que fosse leiloado em benefício das obras da Paróquia. Também cedia seus animais, quando solicitado, para a realização das inúmeras vaquejadas pombaleses.”

Em 1973 foi prefeito por um dia de Ribeira do Pombal substituindo seu sobrinho Antônio Bernardo da Costa Filho que era o presidente da Câmara e tinha assumido a Prefeitura em substituição ao titular. Como precisou se ausentar coube a meu pai assumir o cargo de prefeito por ser o funcionário mais antigo do Município. De acordo com a ata que me foi enviada por meu primo Aguinaldo Brito, datada de 31 de janeiro de 1973, às 19.30 ele assumiu o cargo e no dia seguinte transmitiu para Antônio Bernardo.

Como tinha uma admiração e amizade com Oliveira Brito e Ferreira Brito quando foi criado o Partido da Frente Liberal (PFL) em 24 de janeiro de 1985, por dissidentes do Partido Democrático Social (PDS) ele foi escolhido como presidente do partido em Ribeira do Pombal. Como tinha um temperamento forte, coincidiu que estava na Cidade e foi realizada uma convenção do partido para a escolha do candidato a prefeito da agremiação. Aí resolvi acompanhá-lo e fiquei sentado ao lado dele para interferir de alguma forma, caso fosse necessário. A todo instante virava para mim com aquele vozeirão grave e dizia: “Meu filho, não voto nesta peste”. Eu sempre lhe respondia. Que nada pai, o senhor tem que votar sim no candidato do seu partido. Deveria ter alguma razão, que não procurei saber para não acirrar sua discordância. Era muito verdadeiro.

Por trás de seu jeito sizudo se escondia uma pessoa sensível. Vi muitas vezes sensibilizado com o nascimento ou com o sofrimento de algum animal. Fazia tudo para que os animais não sofressem e sempre procurava dar-lhes algum conforto. Apreciava muito as mulheres. Não gostava de mulher com roupas largas, especialmente com aquelas calças folgadas. Gostava de ver a cantora sertaneja Roberta Miranda porque vestia umas calças apertadas, e dava uma rizada gostosa. Lembrei de um fato muito engraçado que presenciei. Estávamos no velório de um parente quando uma prima de segundo grau que ele acabara de conhecer tinha se aproximado dele e começou a conversar com entusiasmo. Todo descontraído ia contando suas proezas e fazendo elogios, quando a prima perguntou a sua idade. Encheu os pulmões e disse “Setenta e três!”. Imediatamente a prima desinteressou e respondeu: “Pensei que tivesse pouco mais de cinquenta!”. O papo esfriou e em poucos segundos se separaram. Foi ai que desiludido saiu e foi conversar com outros amigos e parentes, contando o fato disse mais ou menos assim: “Não sei porque diabo no mundo fui dizer a minha idade?  A criatura estava interessada!”.  Em seguida deu uma gargalhada.

Outra história que me veio a mente foi quando criança um certo dia ao passar pela Praça Getúlio Vargas achei uma moeda que não lembro o valor. Saí contente e quando cheguei mostrei a meu pai. Imediatamente, me levou até a porta da casa e apontou em direção da praça e ordenou. “Volte e coloque a moeda onde você diz que achou. Vou ficar daqui olhando “. Saí espumando e quando dobrei a esquina atirei a moeda para lá. Sentei na calçada e dei um tempo. Depois resolvi voltar . Chegando, fui abordado por ele .”Deixou a moeda  no mesmo lugar ? ” Aí tive que mentir, para não ter que voltar, e respondi deixei. “Nunca pegue no que não é seu”.

Fez também uma mini reforma agrária a seu jeito. Quando adquiriu as terras da Fazenda Salgadinho que pertenciam ao me avó haviam várias casas de agregados dentro da propriedade. Isto coincidiu com a construção e asfaltamento da nova BR-110 que cortou a sua propriedade. Lembro que na época não exigiu nenhuma indenização do DNER  (hoje DENIT) porque entendeu que fora beneficiado com a construção da rodovia federal. O governador da Bahia era Lomanto Junior que governou a Bahia de 1963-1967, mas a obra era federal. Então, entrou em contato com cada uma das famílias e concordaram que daria cinco tarefas de terra para cada família e ajudaria na construção da casa. Assim, foi feita a transferência, sem maiores traumas, embora algumas pessoas acostumadas a morar naquele lugar há vários anos se sentiram incomodadas com a mudança, mas não houve qualquer resistência e continuaram trabalhando na Fazenda Salgadinho. Receberam o título de propriedade, e hoje estas glebas são ocupadas pelos descendentes dessas famílias e alguns já passaram adiante.

NR- Quero agradecer mais uma vez a Hamilton Rodrigues este amigo e companheiro nesta jornada  que vem buscando colher informações para que eu possa escrever sobre estas pessoas que contribuíram de alguma forma para o desenvolvimento de nossa Ribeira do Pombal.