*Franklin Jorge
Não é raro lermos, aqui e ali, sobre a dificuldade que nossos estudantes têm quando instados a interpretar textos. São poucos, raros até aqueles que conseguem ler nas entrelinhas e mergulhar nas entranhas dum texto, sem atentar para intenções ocultas que há sob camadas de palavras.
Mesmo entre escritores, formados mais pela vontade do que pelo estudo e o conhecimento, observa-se essa carência que remete a uma outra grande dificuldade que resulta da falta de prática no manejo do chamado pensamento abstrato.
São fatores que delatam a má qualidade da educação no Brasil. Na verdade, a escola não nos ensina a pensar de maneira critica a realidade e o que está escrito como algo impermeável às contradições. Logo, quem pensa é mal visto e constitui uma ameaça a todos aqueles que preferem corroborar em vez de questionar e ampliar potencialidades.
Ignora-se a existência duma escrita em abismo. De uma escrita que pode dizer mais do que aparentemente diz. Às vezes afirmando o que o pensamento, por ironia, oculta ou desdiz. Dissimula e finge afirmar o que não afirma. Para ler e interpretar, portanto, exige-se mais que meramente ler, ou seja, passar os olhos sobre o texto; mas mergulhar nele.