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Já não se formam jornalistas como antigamente

Jornalista potiguar crítica a forma caricata como os profissionais do Estado se posicionam em busca de audiência e o silêncio da categoria em relação aos desmandos praticados pelo governo.

*Nadja Lira

Decidi ser jornalista quando cursava o ensino médio e para isto estudei com afinco e fui aprovada no vestibular para o curso de Jornalismo na UFRN. Abracei a profissão da qual me orgulho profundamente, porque ela tem me servido como trampolim para conquistar tudo o que sempre desejei no campo profissional.

Nos últimos tempos, porém, o jornalismo praticado pela maior empresa brasileira, a Rede Globo de Televisão, mostrou ao mundo o lado vergonhoso de como não se deve fazer jornalismo: publicando notícias sem averiguar todas as fontes de informações, por exemplo.

O resultado do erro grosseiro não tardou a chegar, uma vez que na atualidade, cada blogueiro e cada cidadão que possua uma página nas redes sociais se considera um jornalista em potencial e logo a farsa da Globo ganhou proporções inimagináveis.

O jornalista é o profissional que observa, coleta e apura dados para transformá-los em notícias. Mais do que isto, o jornalista é um indivíduo idealista, que acalenta a ilusão de poder modificar o mundo, transformando-o em um lugar melhor e igual para todos. Na verdade, o jornalista é um grande sonhador. O trabalho deste profissional é de grande utilidade pública, porque é impossível imaginar um mundo sem notícias.

Para algumas pessoas, ser jornalista significa ter status social e por isso, uma vaga nesta área é muito disputada, principalmente para as emissoras de TV. A disputa é acirrada até mesmo por aqueles que jamais frequentaram uma universidade, leram alguma teoria acerca do que é jornalismo e que nada entendem da ética profissional desta categoria.

É graças ao trabalho desse incansável garimpeiro de letras, que o mundo toma conhecimento, em tempo real, de tudo o que acontece no planeta. Para isto, o jornalista sacrifica seus feriados e dias santos, as festas em família e a ceia natalina, somente para deixar a todos bem informados.

Jornalistas são amados por uns odiados por outros e precisam manter uma conduta ilibada, isenta porque somente assim ele terá condições de desempenhar bem o seu papel de informante da sociedade.

Aprendi durante o meu curso de Jornalismo, que os profissionais da comunicação não podem andar de mãos dadas com os poderosos e tampouco podem receber favores das classes políticas. Se assim fosse, tal prática tiraria do profissional toda a capacidade e possibilidade de denunciar os desmandos dos quais tomassem conhecimento.

Sem sombra de dúvida, o trabalho de um jornalista tem uma grande importância para a sociedade, mas lamentavelmente o profissional desta área no Rio Grande do Norte não demonstram a isenção que o trabalho requer e que é ensinada nos bancos universitários. A postura de boa parte dos profissionais do Estado é de subserviência aos poderosos e as notícias que deveriam ser denunciadas, mais parecem textos de meros assessores de imprensa.

Sabe-se que um jornalista precisa respeitar a linha editorial da empresa para a qual trabalha, porém, sempre existe a possibilidade de se escrever um artigo de opinião sobre os desmandos praticados pelos três poderes e que precisam ser denunciados.

É triste perceber que o RN enfrenta uma situação calamitosa em relação à falta de pagamento dos servidores praticados pela governadora do Estado, Fátima Bezerra, e ver que ninguém se pronuncia a respeito. Nenhum deputado fala sobre o assunto, bem como o Ministério Público. Os jornalistas, por sua vez, parecem que são de Marte. É claro, que existem algumas exceções, mas elas são tão raras que passam quase despercebidas.

Nenhum som é emitido sobre o fechamento dos hospitais, sobre os gastos extraordinários que o governo faz, ao mesmo tempo em que afirma que o Estado está falido. Sobre os desmandos que a governadora prática, impera um silêncio de cemitério.

Enquanto isso, as emissoras de televisão, na ânsia de conquistar audiência, colocam no ar uns programas de notícias que só Jesus na causa: São apelativos, violentos, enfim um horror. Nada a ver com aquilo que se aprende na universidade sobre jornalismo.

Os jornalistas se transformaram em personagens caricatos, usando uma postura e um linguajar pobres, que em nada lembram o profissional que deve ser o jornalista e que as universidades ensinam. Logo, chegamos à conclusão de que já não se formam jornalistas como antigamente e isto é uma lástima.

Nadja Lira, Jornalista • Pedagoga • Filósofa