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O sequestro das galinhas

Colaborador de Navegos, fugindo um pouco aos seus temas habituais, proclama a popularidade e o prestigio das ‘penosas’ em um texto feito sob medida para alegrar o sábado.

*José Vanilson Julião

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A ciência biológica classifica de “Gallus gallus domesticus” a espécie dos pintos, frangos e adultos. As primeiras referências de domesticação das aves originárias da Ásia datam do século VII antes de Cristo.

O número de raças engloba quase todo o alfabeto (exceto a letra “u”). Mas o nosso assunto começa com as caipiras nordestinas. Sem pedigree definido. Apreciadas na culinária.

Após dois anos de paralização pela pandemia durante três dias realizou-se mais um festival de inverno do município seridoense de Cerro-Corá, a 190 quilômetros de Natal. Com consequente rescaldo e repercussão em redes sociais.

Na semana que antecede o evento um futuro participante dá conta que perde o cartão de crédito. Um dia após o encerramento outro diz que perdeu um cordão de ouro (encontrado) e um blusão (continua com paradeiro desconhecido).

O que chamou a atenção: o roubo de 90 galinhas. No sítio Condessa. No domingo. Notificado em “banner” e divulgado em áudio por gentileza do ex-candidato a vereador Vivaldo Evaristo de Medeiros, atendendo apelo de um amigo.

Apesar do sargento local está ciente a gravação era um apelo para quem tivesse informações ou pistas sobre a tropa de galinhas – pretas, brancas, marrons e pintadinhas. Pelo valor de mercado, 40,00 reais, o prejuízo pode chegar a 2.800,00.

Tudo isso me fez lembrar que durante a Semana Santa, lá no final dos anos 60 e começo da década seguinte, nunca ouvi falar em tão alto número de vítimas. E que recentemente o “Navegos” localizou e públicou uma crônica do jornal diário carioca “O Globo” em que as penosas são as personagens.

O poeta amazonense Thiago de Mello (recentemente falecido) relata a personalidade das galinhas que perambulam no quintal da casa grande da usina de açucar no Vale do Ceará-Mirim, onde esteve nos anos 50 a convite do advogado, político e usineiro paraibano Odilon Ribeiro Coutinho.

Enfim, as ditas cujas são personagens na cultura popular e na mídia. “A Fuga das Galinhas” (Chicken Run/2000) é uma comédia de animação em stop-motion e primeiro longa-metragem de um estúdio inglês em parceria com o americano “Dreamworks”.

Com 224 milhões de doláres se tornou o “celulóide” deste tipo com maior arrecadação na história. A trama envolve um bando de galináceos e o galo “Rock” como única esperança para escapar da fazenda e não se tornarem tortas de frangos. Segue a franquia com “A Fuga II”.

Em dezembro de 2006 um casal de produtores paulistas adiciona animação no Yutube para apresentar a um canal infantil, não sendo aprovado, mas seis meses depois é notificado pelas 500 mil visualizações.

Quando entra em cena o DVD “Galinha Pintadinha e Sua Turma” com letras de domínio público (“A barata”, “Escravos de Jó” e “Marcha Soldado”). Quatro anos após o segundo projeto com a “Som Livre” (braço da TV Globo como selo de gravação).

Neste segundo trabalho são incluídas outras canções populares: “Atirei o pau no gato” e “Se essa rua fosse minha” (as mais conhecidas). No primeiro mês são 100 mil cópias vendidas e disco de platina.

Atualmente o clipe inicial contabiliza 450 milhões de acessos e o site oficial passa dos sete bilhões, sendo o primeiro canal brasileiro a ultrapassar este número. Enquanto o DVD chegou a 450 mil cópias.

O cinema nacional até conta com uma fita “Ladrão de Galinha” (1975) com os não tão conhecidos atores Wilson Roncatti, Roberto Frota e o próprio diretor, Sebastião Pereira, como protagonistas. Hoje o furto de galinha pode render uma condenação de dois a cinco anos de prisão…

A ave também é alvo na música popular. O sambista carioca Nei Braz Lopes (9/5/1942) é o letrista de “Ladrão de Galinha”. Com o mesmo título o compositor-cantor paraibano Genival Lacerda Cavalcante (Campina Grande, 1931 – Recife, 2021) canta:

– Eu vou pegar esse ladrão

Que roubou minhas galinhas

Deixando o meu galo na mão

Com saudade das franguinhas

 

Da pena ver meu galinho

Calado e na solidão

Sem embalo o coitadinho

Por culpa desse ladrão

 

A pior humilhação

Vem da gata da vizinha

Que tem um galo grandão

Dono de muitas galinhas

Meu galo as vezes no peito

Atravessa pro lado de lá

Leva pão de todo jeito

E volta correndo pro lado de cá

Sem nada arrumar.

FONTES

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Navegos