*Franklin Jorge
Há dias fechei-me em copas. Sinto-me como que mergulhado num buraco negro e tudo em volta parece-me envolto em uma espessa bolha leitosa que resiste às tentativas de extrair, mesmo uma vírgula, de meus pensamentos.
Aflige-me o não-escrever, deleite que as vezes se apresenta sob a forma de tormento, o que terá inspirado a Clarice, ao refletir sobre o ato da escrita, a defini-lo como “a maldição que salva”.
Escrever, não como uma forma de poder e onipotência, mas de percepção do que se oculta à nossa volta e nos faz mais consciente de tudo o que, simplificando, podemos chamar de vida e descoberta do mundo.