• search
  • Entrar — Criar Conta

Bolsonaro versus Macron

Autor baiano analisa com exclusividade para o Navegos a polarização política no debate sobre a Amazônia; licenciando em letras pela Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia, o também advogado e poeta aponta que os extremismos entre os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula da Silva – além das farpas trocadas entre os mandatários do Brasil e de França – estão tornando o ‘clima ruim’ para uma efetiva tomada de decisões para a preservação e o desenvolvimento da região

Elicio Santos do Nascimento

Não, Macron. A Amazônia não é a “nossa [dos franceses] casa” em chamas. Ela é a casa do Brasil e dos países circunvizinhos onde a floresta reside. Ela é importante para todo o mundo, certamente. Mas não pode ser denominada a casa da “mãe França”, senão se tornará, literalmente, “a casa da mãe Joana”. Não, Macron. A Amazônia não é “o pulmão do mundo”.

Os 20% de oxigênio que ela produz é consumido por ela própria. Logo, a Amazônia está mais para o pulmão da Amazônia. Não, não estamos vivendo uma crise ambiental sem precedentes, pois todos os anos as queimadas na Amazônia acontecem. Os picos dessas queimadas ocorreram entre os anos de 2002 e 2005, no governo do então presidente Luís Inácio Lula da Silva e na gestão de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente.

Não, Bolsonaro. Chamar Macron de idiota e cretino pela “erudita” pena de seus filhos e subordinados não fará do Brasil um país comercialmente autônomo, pois vivemos em um mundo globalizado. Tampouco, dará uma boa imagem internacional à nação governada por um chefe de Estado que usa o Twitter para afirmar que tem uma mulher mais bonita do que a do presidente francês. Ora, esse senhor deveria se lembrar que a fase adolescente dele passou há muito tempo.

Não, Bolsonaro. Não há provas de que ONGs estão incendiando a Amazônia para te prejudicar. Embora esse fato seja, de algum modo plausível, realmente a sua plataforma de governo que privilegia o desenvolvimento do agronegócio e dos setores industriais, em detrimento das políticas de fiscalização ambiental. Não, Bolsonaro. Dizer uma coisa e mudar a palavra em sequência não te faz passar por um estadista, mas por um alienista amador. Não, Bolsonaro. Afirmar que não ofendeu a primeira-dama francesa não mudará o fato de que o senhor a insultou.

Enquanto isso, o Brasil arde em chamas num meio ambiente hostil. Permanece crepitantemente dirigido pelos donos do ar irrespirável em que vivemos: lulistas e bolsonaristas.

Elicio Santos do Nascimento, advogado, servidor público municipal em Ilhéus (BA), colunista das revistas “Avessa” e “Ema” e colaborador dos sites Philos, Recanto das Letras e Ilhéus.Net, é autor dos livros “Fábrica de Sentidos” (Leia Livros; 214 págs.; 2017), “O Porquê das Coisas” (Leia Livros; 80 págs.; 2016), “Contos Urbanos” (Redondezas Contos; 44 págs.; 2014), dentre outros.

EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL Imagem aérea feita por Carl de Souza no dia 23 de agosto deste ano para a Agência France Press mostra focos de incêndio na Amazônia; segundo dados do Inpe, que são corroborados pela Nasa, em um ano a variação de queimadas na Amazônia Legal foi de 63%, sendo 33 632 em 2018 e 54 906, em 2019; é o segundo maior número de incêndios registrado nesta década – os recordes anteriores foram entre 2002 e 2005 –, ficando atrás apenas dos de 2016, quando foram assinalados 56 935 focos; população local vive dilema entre se desenvolver e preservar a floresta em sua totalidade