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Amor crônico aos livros

Poeta, Colaborador de Navegos, declara o seu amor aos livros e evoca coleção famosa criada há 50 anos pela Editora Ática com o objetivo de difundir o gosto pela leitura.

*Lívio Oliveira

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Dia desses me vi em meio a um debate – a meu ver, prazeroso e produtivo – acerca de crônicas e cronistas brasileiros. Certamente, a discussão acerca do gênero ganhou novo fôlego no país com a publicação recente do livro “Os sabiás da crônica”, uma antologia organizada por Augusto Massi para a editora Autêntica, e que reúne noventa crônicas de seis grandes autores do gênero (aos quais chamo de “sábios sabiás”), num painel que se situa entre os anos 30 e o final do século XX, boquinha do século XXI.

Quando se trata desse gênero, sempre me vem à lembrança uma coleção de textos curtos publicada pela Editora Ática e que me agradava profundamente na adolescência. Eu a lia com avidez e enorme prazer. Chamava-se “Para gostar de ler” e continha dezenas de textos atrativos (crônicas, contos e poemas) de gente do quilate de Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rachel de Queiroz, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, dentre outros vários nomes consagrados, significativos das letras brasileiras (alguns deles presentes na antologia mencionada). Era um deleite, uma viagem entre sabores e belezas que somente a palavra bem escrita contém.

Não sei se aquela coleção vem sendo reeditada ao longo dos anos ou se teria sofrido algumas adaptações durante esse tempo. Mas sei que isso deveria, sim, ocorrer, pelo altíssimo valor pedagógico e literário-artístico que os textos reunidos contêm. Afirmo, sem medo de errar, que aqueles livros ajudaram muito no meu processo de formação educacional e no meu gosto – e até vocação, quero acreditar nisto – pela literatura.

A sua fórmula eleita é magistral, um exemplo de sucesso e prestígio no meio literário. Trata-se de uma coletânea de textos rápidos e que, pela qualidade dos autores, mostra claramente ao leitor – principalmente ao leitor jovem e iniciante – o quanto pode ser motivadora a tarefa e a aventura de se entregar às palavras escritas e a um livro e ao conteúdo sublime que nele se insere. O livro é mesmo essa espécie de mundo particularizado, enfeixado entre capas e páginas de um artefato compacto, simples, mas poderoso. O livro sempre transforma.

Não falo somente dos livros de papel, por evidente, até porque o objetivo deste texto não é polemizar sobre a possibilidade, ou não, do desaparecimento do livro impresso em face do advento das novidades tecnológicas trazidas com o chamado livro digital. Na verdade, quero falar mesmo é acerca da atividade da leitura e não de um pretenso fetiche em torno desse objeto quase perfeito (e que amo cada vez mais): o livro.

É que sou pai e tio de jovens. E tenho – além das responsabilidades e deveres familiares e até pelo envolvimento direto com o mundo das letras – a missão de mostrar o valor do livro e da leitura para os meus filhos e sobrinhos. Vivo preocupado com o fato de que parte da juventude atual têm um tipo de contato com a tecnologia que nem sempre faz com que sejam buscadas as reais maravilhas que tais instrumentos da nossa era podem oferecer.

O mundo da leitura literária, especificamente daquela à qual me referi quando iniciei estas palavras – crônicas, contos, poemas, novelas, romances – têm às vezes passado ao largo das preocupações desses jovens frenéticos e excitados com os bytes dos computadores. Por onde (re)tomar a cultura/leitura do livro? Está aí um “papel” de todos os atores do mundo intelectual, pelo qual vale a muito a “pena” trabalhar.