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Adulto também sente medo

Colaboradora de Navegos, jornalista e pedagoga escreve sobre uma constante existencial, o medo que perpassa a existência humana.

*Nadja Lira

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Eu fui uma criança muito medrosa. Tinha medo de escuro, do Bicho Papão, do Boi da cara Preta, do Velho do Saco e das sombras que se formavam na parede graças à luz do lampião da casa da minha avó. Estes medos foram superados graças aos ensinamentos do meu pai, cujo conselho era de que eu deveria enfrentar meus medos, porque somente assim eu os superaria. E assim foi.

Hoje adulta venci meus medos de criança, mas acumulo outros medos. Não consigo assistir a filmes de terror, por exemplo. Eles me deixam tão assustada, que chego a perder o sono. Mas, que atire a primeira pedra o adulto que não cultivar algum tipo de medo. Mas penso que o medo na medida certa é saudável. Afinal é graças a ele que ficamos em alerta diante de algum perigo.

Vivemos em um mundo de tanta violência, que duvido alguém não sentir medo de assalto, de acidentes e particularmente de adoecer e ser entubado vítima do Coronavírus, que tem ceifado tantas vidas ou qualquer outra doença respiratória.

Além destes medos comuns aos adultos, nestes últimos tempos eu tenho sentido muito medo das atrocidades que infestam o mundo globalizado. É assustador imaginar que a qualquer momento pode-se ter o computador invadido por um hacker e perder todo o trabalho armazenado nos seus arquivos. Também é apavorante imaginar que alguém mal-intencionado pode roubar suas senhas, roubar o número de seus documentos e praticar atos espúrios, os quais você jamais seria capaz de fazê-lo.

Sinto-me amedrontada não apenas com os assaltos e acidentes, mas também das apavorantes informações acerca do fim dos tempos. Meu temor sobre este assunto é tão grande, que nem tenho coragem de ler o livro de Apocalipse e tampouco de assistir ao filme.

Cotidianamente, o medo parece viver à nossa espreita nas diversas esquinas da cidade, e assim não sinto a menor segurança em andar a pé pelas ruas de Natal, conforme costumava fazer anos atrás. A falta de segurança é tão absurda nos dias atuais, que cada desconhecido que cruza nosso caminho pode ser visto como um possível assaltante ou assemelhado.

Dirigir pelas ruas da cidade também se tornou algo assustador, especialmente se próximo do seu carro vier um motoqueiro. Hoje em dia ninguém tem letreiro na testa para identificar quem é cidadão de bem ou não. Logo, ninguém se sente tranquilo dirigindo com um motoqueiro por perto.

A atenção enquanto se dirige precisa ser triplicada, uma vez que ultimamente uma pessoa pode morrer no trânsito por qualquer besteira. Uma reles discussão por uma barbeiragem pode acabar com um corpo morto estendido no asfalto, já que a vida humana se tornou algo sem respeito e sem valor. Aliás, uma vida humana vale menos do que a de uma árvore ou de um animal qualquer. O importante para o assassino é livrar o flagrante.

Assusta-me de maneira particular, esta guerra entre a Rússia e a Croácia. Temo que ela se alastre pelo resto do mundo desencadeando a Terceira Guerra Mundial, como está previsto nas Santas Escrituras.

Reconheço, porém, que não posso permitir que todos estes medos dominem minha vida a ponto de me transformar numa pessoa apavorada. Assim, em cada situação de perigo a que sou exposta, tento lembrar dos ensinamentos do meu pai e retiro forças não sei de onde, para encarar o momento.