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80 anos da Rádio Educadora (XII)

Colaborado de Navegos ressalta em sua pesquisa sobre a radiofonia potiguar a presença, em Natal, de pianista argentino em recital no Theatro Carlos Gomes, apresentado por Aluizio Alves, que seria governador do RN e Ministro de Estado e a lacração contra qualquer gênero de músicia que atente contra a moralidade e os bons costumes.

*José Vanilson Julião

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Em colaboração no período momesmo de 1942 “O Diário” (quinta-feira, 4/2) publica um cupom do “Grande Concurso de Marchas Caranavalescas na Rádio Educadora de Natal. O leitor preenche os dados – “irradiação do dia, número da composição, gênero e assinatura” – recorta e envia para a sede da emissora na Avenida Deodoro (Petrópolis).

Ainda em fevereiro (6) o pianista argentino Heriberto Leandro Muraro (La Plata/Buenos Aires, 25/5/1903 – Rio de Janeiro, 8/3/1968), desde 1932 no Brasil, é apresentado por Aluizio Alves no Teatro Carlos Gomes em benefício da emissora. Na programação o maestro Maurilo Lira, o jazz da ZYB-5, e claro, performances do convidado em torno do sucesso “O teu cabelo não nega”, entre outros números, com apresentação também na recém inaugurada estação pioneira.

Muraro excursiona por Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Itália tocando música brasileira. Atuou na Mayrink Veiga, Nacional e Globo. Foi diretor da Rádio Nacional. Fez rodízio na Farroupilha (Porto Alegre) e na Record (São Paulo). Em 1935, acompanha Carmen Miranda na música “Primavera no Rio” (João de Barro), número final do filme “Alô, alô, Brasil!” (1935), com direção de Wallace Downey, e roteiro de João de Barro e Alberto Ribeiro. Participa também de “Alô, alô Carnaval” de Ademar Gonzaga (1936). Nos nos 1930, 1940 e 1950 grava mais de trinta discos (LPs e 78 rpm) pela RCA, Continental, Odeon e RGE.

Na quarta-feira, 11, provavelmente pressionada, a REN publica nota “A Nossa Orientação” no mesmo vespertino sobre o teor musical da programação e lida dois dias antes na “Gazeta Sonora”. Dos cinco parágrafos do arrazoado destaca-se o penúltimo: – … Resolve expurgar do seu arquivo musical todos os números, que de uma maneira ou de outra, aberta ou anonimamente, atentem contra a moralidade, as tradições de nossa formação cristã, o patrimônio inviolável dos lares brasileiros…”

Na mesma edição veicula a reportagem “O carnaval nas antenas da emissora potiguar”. O repórter “Zé da Folia” entrevista o diretor Carlos Lamas. Depois do enorme “nariz de cera” – linhas desnecessárias no jargão de jornal – e dos muitos elogios, o diretor da emissora anuncia foram classificadas 20 composições com apuração final (sábado 14) no escritório do diretor (Rua Doutor Barata 233) com presenças dos interessados, da comissão da REN e do representante do jornal. E dá em primeira mão que a emissora pretende eleger o rei momol e lança um provável candidato: – Figura o nosso superintendente Carlos Farache, que, pelo seu aspecto imponente, muito se assemelha ao Rei da Folia…

Depois do carnaval a estação anuncia a abertura de inscrições para o “Programa de Calouros” com participação diária com oportunidade aos “valores desconhecidos”. O vespertino também insere a programação entre janeiro e abril das 18 ás 22 horas. Exemplo (segunda-feira, 6/4): abertura com a “Ave Maria” (18), segue “Música Selecionada”, programa oficial do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda/DEIP (19), Márcia Noronha (19h15), Ubaldo Lima (19h30), Jazz (19h45), “Hora do Brasil” (20), orquestra de salão (21)), Tertuliano Pinheiro (21h15), clarinestista Jonatas Albuquerque (21h30), noticiário “Gazeta Sonora” (21h45) e encerramento com o Hino Nacional (22).

E os locutores, artistas e grupos musicais: Carminha Silva, Zezé Gomes, quinteto “Alberto Maranhão”, Silvinha Rios, Jacinto Maia, pianistas Garibaldi Romano, Pedro Duarte e Isnard Amaral, “Nossas Melodias” (Ubaldo Lima), “Três de Ouro”, Carlos Tavares, Xavier de Almeida, “Suave Swing”, Paulo Lira, Dulcinha Pinto, sambista Zé Coelho, bandolinista Antonio Rosalino, Júlio Pereira, sanfonista Lolô Gomes, Mauri de Souza, “Radiolete” (Batista da Silva), Rubens Cristino, Alzir Gomes, Lizete Moura, saxofonista José Martins, violonistas Eclair Lima, Gil Barbosa, Geraldo Bezerrra e Wilson Barreto, Iraci Muniz, Luiz Geraldo, Rubino Tito, Acyr e Aquino.

Na quinta-feira (9/4) a página três do terceiro vespertino – por ordem de fundação – ganha a companhia da programação semelhante do “Indicador da Agência Pernambucana” com hora e meia a menos: Hino Nacional (18h30), música popular (18h35), programa do DEIP (19), música popular, Sebastião Amaral (19h15), bandolista “Palheta de Ouro” (19h40), violinista Antonio Lucas (19h50), “Hora do Brasil” (20 horas) e novamento o Hino Brasileiro (21).

A continuidade do IAP mesmo com o surgimento da poderosa e nova concorrência se dá pelo fato de que o rádio-receptor a valvula para se ter em casa ainda é um artigo de consumo luxuoso e caro. Apesar da variada opção para aquisição nos representantes da cidade. No “cast” continuam Temistocles Costa com o programa “Hora da Recordação” e Jaime Silva. E Luiz Patriota com o “Curso prático de português.”

Na emissora a novidade da sexta-feira: – A cortina radiofônica com encenação do “scket” de Aluizio Alves “A valsa, voz musical dos povos.” No sábado o escritor Câmara Cascudo lê a crônica “Histórias que o vento leva…” Como não circulava no domingo, na terça-feira aparece o tenente Lino Barbosa com solo de violão. As programações somem do impresso e retornam na quinta-feira 23. E Rômulo Wanderley comparece com a crônica “O humorismo através da história.”

 

FONTE

O Diário

Casa do Choro

Cifra Antiga